Os documentos da 3ª Conferência Nacional do PCdoB pela Emancipação das Mulheres apontam inúmeros desafios políticos, organizativos e teóricos que precisarão ser respondidos de forma rápida e assertiva pelo coletivo partidário. As provocações mobilizadoras, consubstanciadas nas palavras de ordem “mais democracia, mais mulheres na política”, e “vamos construir o feminismo popular” reafirmam a urgência de atualizarmos nossa atuação em todas as frentes e movimentos.
Por Valéria Morato*
No âmbito do movimento sindical classista, nosso grande desafio será combinar, no próximo período, formas inovadoras de atuação junto à mulher trabalhadora, a partir de diagnósticos mais precisos sobre as especificidades de cada categoria e organização, e a construção de uma narrativa que amplie o diálogo com estes setores e que também fortaleça as emancipacionistas na disputa de ideias com outras correntes feministas que atuam nos sindicatos e nos movimentos sociais.
Os efeitos sanitários, econômicos e sociais da pandemia agravaram a crise em curso. As mulheres são as mais atingidas. De acordo com o Dieese, metade da população ativa feminina está fora do mercado de trabalho. As mulheres que têm origem em segmentos sociais vulneráveis, pertencentes a grupos raciais marginalizados e precariamente ocupadas sofrem as consequências da crise de forma mais acentuada, com a perda imediata do emprego.
Já as mulheres que estão no mercado de trabalho estão se submetendo a sobrecargas extenuantes de trabalho e ao aumento das atividades domésticas e de cuidados. Acompanhei o drama de professoras da rede privada que dormiam quatro horas por noite para conciliar todas estas funções e ainda lecionar em modo on-line. Um estudo recente do IPEA apontou que as mulheres representam 56,9% das 7,9 milhões de pessoas que estavam em trabalho remoto no país. O estudo também revela que 65% das pessoas que estão trabalhando em casa são brancas, 76% têm nível superior completo e 84% têm vínculo formal.
O PCdoB tem um magnífico acúmulo na construção do feminismo emancipacionista. São inúmeros os exemplos da nossa capacidade de diálogo com a sociedade, com as mulheres e com outras correntes do pensamento feminista em diversas frentes. Consolidamos lideranças nacionais como Manuela D’ Ávila e a nossa combativa bancada parlamentar de deputadas federais, e também projetamos, mesmo em condições adversas, novas vozes que entrelaçam o feminismo com as lutas sociais em diversas localidades.
O movimento sindical classista também tem se esforçado, ao longo destes anos, para incorporar a questão de gênero e as bandeiras emancipacionistas nas lutas das categorias. A igualdade entre homens e mulheres é uma afirmação política inscrita em 2007 na certidão de nascimento da CTB, única central do país que valoriza a flexão de gênero em seu nome. Estimamos que no próximo congresso de nossa central, as mulheres trabalhadoras representarão 50% do total de delegados.
Entre as várias iniciativas exitosas do sindicalismo classista em fomentar o diálogo e a reflexão sobre o feminismo emancipacionista, destaco duas empreendidas pelo Sinpro/MG, cuja categoria é composta por 70% de mulheres trabalhadoras. A primeira é a revista Elas por Elas, que aborda temas como educação, trabalho, política, feminismo e questões étnico-raciais, violência doméstica, saúde, beleza, comportamento, arte e história, com ênfase no protagonismo das mulheres para superar os desafios de uma sociedade machista, patriarcal e capitalista.
A revista se consolidou como importante instrumento de comunicação e de formação entre as professoras, entidades representativas de gênero e no mundo político e sindical. Além disso, desde 2012, o Sinpro homenageia mulheres que contribuem para dar visibilidade, mobilizar e fortalecer a luta pelos direitos, participação política e igualdade de gênero, na perspectiva da busca do socialismo, através da Comenda Clara Zetkin (1857-1933), um tributo à trajetória da revolucionária alemã e militante feminista que, dentre outros legados deixados à nossa luta, lançou a ideia de um dia internacional da mulher, o dia 8 de março.
Aprofundar o entrelaçamento entre as lutas das mulheres e a luta pelo socialismo continua sendo o grande desafio da corrente emancipacionista. Neste sentido, a partir do acúmulo de experiências e da avaliação dos avanços e limites dos últimos anos, precisamos construir novas estratégias de abordagens, amplas e compatíveis com o mundo do trabalho atual e com os diferentes anseios materiais e subjetivos das mulheres trabalhadoras. Este tipo de estratégia pode nos aproximar de setores populares, inclusive dos mais conservadores nos costumes e avessos à retórica de alguns movimentos feministas e identitários.
Por fim, entendo que esta questão deve ser debatida pelas comunistas que atuam no movimento sindical, num encontro nacional que já incorpore as resoluções desta conferência. O encontro pode debater e aprovar diretrizes específicas sobre a atuação sindical neste campo, para que possamos implementar nacionalmente uma política integrada às questões da mulher nas áreas de formação, comunicação, sindicalização e outras áreas pertinentes. Assim, o movimento sindical classista vai incorporando, definitivamente, a luta pela emancipação feminina na sua agenda prioritária.
Espero que estas reflexões possam fornecer insumos para que o movimento sindical continue a contribuir para aumentar nossa influência entre as mulheres, ampliar a luta sindical, revelar e consolidar novos quadros políticos e eleitorais, ajudar o partido a superar a cláusula de barreira, derrotar o bolsonarismo e avançar na construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento.
*Valéria Morato é presidenta da CTB/MG, do Sinpro/MG e integrante do Comitê Central do PCdoB.
Estou feliz em fazer parte desta família do PCdoB e poder colaborar com está mudança. Estou na estatística do aumento de violência a mulheres quero colaborar com a comunicação correta para que não sofram mais.
Até a conferência.