Por que atacar tão violentamente uma jovem mulher, liderança do Brasil?
Por Vanessa Grazziotin*
Grande foi a polêmica, no seio dos partidos progressistas e das entidades representativas dos movimentos sociais se deveriam ou não aceitar o convite do MBL e participar do ato pelo Fora Bolsonaro ocorrido no último dia 12 de setembro em São Paulo.
Na época ficou evidente uma divisão de opiniões, não apenas entre partidos e movimentos, mas no interior das próprias organizações.
Foi nesse ambiente de divisão de opiniões que inúmeras lideranças, parlamentares de esquerda e dirigentes de várias entidades decidiram, como uma manifestação em favor de uma Frente Ampla contra Bolsonaro, participar do referido ato.
É necessário destacar antes de tudo que hoje a maioria dos partidos políticos de esquerda defendem a formação de uma ampla frente em defesa da democracia e do Estado de Direito, pois sabem que essa é a única forma viável para isolar e derrotar Bolsonaro e, assim, fazer cessar suas constantes atitudes e ameaças antidemocráticas.
A defesa da frente ampla é portanto uma bandeira do PCdoB, do PSB, PT, PSOL, REDE, PV, PDT e de outros partidos, que têm convicção de que a única forma de frear o genocida que está no poder é ampliando o movimento para muito além das esquerdas.
Não se trata de uma frente ideológica, tampouco eleitoral. É uma frente de diferentes, que se unem por um único objetivo comum e imediato: cessar o governo antidemocrático e fascista de Jair Bolsonaro.
Não estamos, portanto, tratando de divergências de conteúdo (pelo menos aparente e formalmente), mas de divergências quanto aos encaminhamentos. Ocorre que por terem participado do ato de 12/09, organizado pelo MBL – cuja mobilização deixou muito a desejar – inúmeras lideranças, sobretudo mulheres, vêm sofrendo ameaças e ataques agressivos pelas redes sociais.
Isso é inadmissível! venha de onde vier, seja contra quem for!
Violência política de gênero é crime e as agressões devem ser apuradas e punidas! A luta de ideias é sempre bem-vinda e deve ser feita através do debate, que pode até ser duro, mas desrespeitoso e agressivo jamais!
Sei o quanto é doloroso e assustador sofrer agressões, pois sofri muito, principalmente quando estava no Senado combatendo e enfrentando o golpe contra nossa democracia – hoje inteiramente desmascarado – contra a presidenta Dilma Rousseff .
Nós mulheres que, num ambiente machista, ousamos fazer política e nos posicionarmos com firmeza temos sofrido constantemente e lamentavelmente toda forma de violência.
No momento, a maior e mais evidente ação de ódio tem se voltado contra Bruna Brelaz, a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), pelo simples fato dela cumprir o seu papel como liderança da juventude e, coerentemente, se dedicar a combater, sem medo, o governo Bolsonaro, que tanto mal tem causado ao Brasil.
O que tem feito a jovem presidenta da UNE para sofrer tantas agressões e ameaças? O que tem dito e defendido Bruna Brelaz?
A necessidade da formação de uma Frente Ampla para derrubar Bolsonaro; O combate à intolerância e a necessidade de uma convivência respeitosa e de combate aos ataques e fake news, que muitas vezes se manifestam dentro do nosso próprio campo.
Quem pode ser contra essa pauta? Apenas extremistas de direita. Jamais qualquer pessoa com bom senso.
Por que atacar tão violentamente uma jovem mulher, liderança do Brasil? Será por que é mais fácil atingir uma mulher?
Li com muita atenção a entrevista de Bruna na Folha de São Paulo, da última segunda feira, 18. Seu único alvo é Bolsonaro e a premência da sua derrota.
Nada, absolutamente nada, justifica os ataques que ela vem sofrendo, muito menos a tentativa de desvirtuar suas declarações.
De igual forma, as agressões e ameaças sofridas recentemente pela deputada Tábata Amaral – de cujo posicionamento político divirjo na maioria das vezes – uma delas, de forte conteúdo ameaçador, recebeu um retuite do querido e combativo ator José de Abreu, que, felizmente, logo em seguida se retratou e fez uma autocrítica pública.
Espero que essa autocrítica venha também daqueles que, no momento, destilam ódio e a intolerância contra Bruna Brelaz.
À Bruna, uma liderança que vi se formar e crescer politicamente no nosso Amazonas, manifesto não só solidariedade, mas a disposição de, juntas, continuarmos o enfrentamento à cultura do ódio, o machismo e a misoginia.
Força Bruna e Frente Ampla pelo Fora Bolsonaro!
*Secretária nacional da Mulher do PCdoB. Foi dirigente estudantil e sindical; vereadora em Manaus, deputada federal e senadora da República pelo PCdoB Amazonas. Foi procuradora da Mulher no Senado. (Artigo publicado originalmente no portal Brasil de Fato)