Por Ana Rocha
“Elifas, você entrou para a trajetória das brasileiras, tocando em nossos corações.”
A morte de Elifas Andreato, artista plástico, emociona a todos nós democratas, que sentimos na sua arte a expressão colorida e sensível de suas imagens, seja em cartazes de protesto, capas de discos e de revistas.
Foi por constatar essa sensibilidade que ousamos procurá-lo para propor que fizesse a capa da revista Presença da Mulher em seu primeiro aniversário. Munidas de vários exemplares, chegamos à sua mesa de trabalho, explicando o sentido da publicação, surgida em 17 de julho de 1986. O primeiro aniversário seria comemorado num grande encontro de entidades emancipacionistas no Rio de Janeiro. Era preciso que a capa estivesse à altura desse acontecimento. Debater a opressão da mulher, unificar as campanhas de luta e avançar na articulação nacional dessas entidades eram os principais objetivos.
Elifas entendeu e concordou em desenhar a capa. Pediu para ficar com os exemplares da revista para entender melhor seu conteúdo. Poucos dias depois nos entregou um desenho lindo, expressando a leveza e o espírito feminista: uma margarida mãe! Além de colocar seu desenho na capa da revista, fizemos um cartaz que se espalhou de norte a sul do Brasil, ocupando locais de trabalho e as casas das militantes.
Alguns anos depois, no quinto aniversário da Presença da Mulher, Elifas não só aceitou participar de um debate no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, onde discorreu sobre a importância da imprensa e de sua apresentação gráfica, como se dispôs a fazer a capa para a revista comemorativa do quinto do quinto aniversário. Desta vez, uma caneta em forma de flor.
Na oportunidade, afirmou: “Especialmente no que se refere à mulher, a emoção é um canal absolutamente eficiente. Eu sempre tentei ao longo dos anos, desenhando e fazendo artes gráficas, trabalhar com esse entendimento. Acho que você aproxima as pessoas pela emoção. Às vezes, é difícil uma pessoa racionalizar diante de uma imagem e acho que a emoção aproxima e abre a guarda. Ela facilita a entrada. Quando eu digo que o tratamento deve ser por aí, associo o feminino que eu estou defendendo, no visual da revista, a essa emoção que a mulher tem muito maior, mais aflorada do que qualquer homem que eu conheça”.
Com sua arte, Elifas deixou um legado para as mulheres brasileiras e concretamente ajudou a fortalecer a revista Presença da Mulher, que buscava se firmar como um canal de debate da realidade das brasileiras, de impulsionamento de sua organização e luta por um mundo de igualdade, contra toda opressão. Foi no leito dessa corrente que, em 1988, na cidade de Salvador (BA), veio a ser criada a UBM (União Brasileira de Mulheres).
Elifas, você entrou para a trajetória das brasileiras, tocando em nossos corações. Com sua mensagem visual, também impulsionou a luta emancipadora.
Elifas Andeato, presente!
Ana Rocha é psicóloga, jornalista e mestra em Serviço Social, foi a primeira editora da revista Presença da Mulher