Um estudo realizado pela Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde, mostra que a mortalidade de mães pretas no Brasil é duas vezes maior do que a de mães brancas. Os dados, provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS) lançados nesta quinta-feira (23), revelam que a cada 100 mil nascidos vivos, 100 mães pretas perderam a vida, enquanto entre as brancas o índice foi significativamente menor, registrando 46,56 mortes. Veja a íntegra da pesquisa aqui.
Essa disparidade chama a atenção para a urgência de abordar questões estruturais e sociais que impactam a saúde materna, especialmente a saúde das mulheres negras. Segundo o estudo, a Razão de Mortalidade Materna (RMM) é considerada quando acontece até 42 dias após o término da gravidez, atribuídos a causas ligadas à gestação, ao parto e ao puerpério.
O levantamento, intitulado “Pesquisa Nascer no Brasil II: Inquérito Nacional sobre Aborto, Parto e Nascimento” e baseado nos registros do SUS sobre internações de mulheres em casos de parto ou aborto em hospitais públicos ou mistos, revela que a incidência de morte no parto entre mulheres pretas foi de 100,38, enquanto entre as brancas foi de 46,56. Para mulheres pardas, o índice foi de 50,36 a cada 100 mil.
Frente a esses números alarmantes, o Ministério da Saúde anunciou, também nesta quinta, a reabertura do Comitê Nacional de Prevenção à Mortalidade Materno Infantil, com a promessa de priorizar a ampliação da oferta de centros de parto natural e maternidades, incluídos no Novo PAC (Programa de Aceleração Econômica).
A campanha “Racismo faz mal à saúde”, lançada simultaneamente, busca conscientizar sobre o impacto do racismo na saúde, reconhecendo-o como um fator determinante nessa disparidade. Durante a pandemia de Covid-19, a diferença também foi significativa: em 2021, a RMM ficou em 194,8 no caso das mulheres negras (127,6 em 2020); 121 para brancas (64,8 em 2020) e 100 para pardas (68,8 em 2020).
Um dos fatores apontado pelo estudo é a falta de assistência pré-natal, evidenciada pelo fato de 13,4% das gestantes pretas e pardas iniciarem o acompanhamento médico apenas no segundo trimestre da gravidez, enquanto para as mulheres brancas esse índice foi de 9,1%. A ONU estabeleceu a meta de reduzir as mortes maternas para 30 a cada 100 mil nascidos vivos até 2030, um desafio que o Brasil enfrenta diante dessas disparidades.
Além disso, a pesquisa revela que doenças pré-existentes, também são maiores na população negra. As causas mais comuns são: as síndromes hipertensivas (gestantes pretas, 64,2%; pardas, 62,1%; e brancas, 54,7%); a hipertensão arterial grave (gestantes pretas, 58,5%, pardas, 54,8%; e brancas, 50,1%); e a pré-eclâmpsia grave (gestantes pretas, 26,5%; pardas, 25%; e brancas, 16,9%).
Outros fatores destacados incluem a gravidez precoce, com mulheres pretas (15,9%) e pardas (13,8%) liderando as gestações entre 10 e 19 anos, enquanto as mulheres brancas têm uma incidência maior de gravidezes acima dos 35 anos (18%) em relação a negras e pardas (15,9% e 13,9%, respectivamente). Em todos os grupos, a maioria engravidou entre 20 e 34 anos.
Diante desse cenário crítico, o Brasil enfrenta o desafio de combater a desigualdade racial na saúde materna e garantir que todas as gestantes recebam a assistência necessária desde o início da gravidez, em busca de alcançar as metas estabelecidas pela ONU e garantir um futuro mais seguro para mães de todas as origens étnicas.
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com informações do Ministério da Saúde
Por Bárbara Luz