Com mulheres à frente, a UNE luta por direitos das mulheres e reafirma a defesa histórica da soberania nacional
O movimento estudantil se tornou um espaço relevante para atuação política das mulheres. O protagonismo feminino em entidades a exemplo da União Nacional dos Estudantes (UNE) tem contribuído para a discussão e o fortalecimento de pautas feministas dentro e fora do ambiente acadêmico e da participação das mulheres no debate político contemporâneo.
Ao longo da história, a UNE teve oito mulheres na presidência da entidade. Das últimas sete gestões, seis tiveram mulheres no comando e a gestão recém-eleita é a terceira consecutiva com mulheres à frente. A sequência de lideranças femininas na principal entidade estudantil do país resulta da luta cotidiana por mais representatividade e participação.
A entidade exige que as chapas inscritas para disputar as eleições regionais sejam compostas 50% por mulheres a fim de garantir representação feminina na Direção da Executiva Nacional da entidade. Na última gestão, a participação de mulheres ultrapassou os 70%. “São 14 cargos na Diretoria Executiva. Nós não temos a definição completa das indicações, mas historicamente as mulheres têm dominado esses espaços”, disse Bianca Borges, eleita em julho para assumir o comando da UNE no biênio 2025-2027.
Com uma história marcadamente progressista, a UNE surgiu em 1937 buscando posicionar o Brasil no enfrentamento ao nazi-fascismo. No contexto atual, as lideranças femininas à frente da entidade são desafiadas a posicionar o movimento estudantil no enfrentamento ao avanço da extrema-direita e em defesa da soberania nacional.
Ato público
A entidade convoca, para a próxima sexta-feira (14), um ato em defesa da soberania e da democracia e contra a anistia aos acusados pela tentativa de golpe de Estado, em oito de janeiro de 2023.
“Mais uma vez a história convoca os estudantes brasileiros a se mobilizarem e a estarem de pé. Não é de hoje que falamos de soberania. A história da UNE é marcada por essa luta, inclusive a entidade foi uma das principais articuladoras da campanha ‘O petróleo é nosso. Agora somos chamados a nos opor à ofensiva da extrema-direita que atua principalmente por meio de (Donald) Trump. Ele tentou nos colocar de joelhos, mas temos respondido de pé, mostrando que quem manda no Brasil é o povo brasileiro’”, afirmou Borges.
Para a nova presidente da UNE, a luta por soberania e democracia passa também pela ampliação do acesso à educação de qualidade. A entidade, historicamente, atuou como locomotiva na construção de políticas públicas que transformaram a universidade brasileira a exemplo da política de cotas.
“Acreditamos na emancipação do nosso povo a partir da educação, especialmente nesse momento em que a extrema-direita utiliza tanto de desinformação para manipular a população. Precisamos de uma reforma universitária popular para que a universidade se coloque à serviço do povo na resolução dos principais dilemas e desafios e assim contribuirmos para a construção de um país democrático e soberano”, pontuou.
Defesa das mulheres
As pautas em defesa das mulheres também são prioritárias para a UNE, que lançou, em 2023, uma Cartilha de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres na Universidade, em parceria com o Ministério das Mulheres. O assédio no ambiente universitário e a dificuldade de permanência das estudantes na universidade, especialmente as que são mães, são questões consideradas relevantes e que devem ser debatidas.
“Ter mulheres na liderança de entidades como a UNE é fundamental para a gente contribuir a partir dessa perspectiva de gênero e pensar políticas para avançar nesse cenário, nessa realidade”, afirma Borges.
Para a presidente da UNE, a presença significativa das mulheres à frente de entidades dos movimentos sociais é resultado de uma construção orgânica de base. “As mulheres hoje são maioria na liderança e estão nas bases. Isso é motivo de alegria para nós. Significa romper barreiras impostas pelo machismo estrutural, pelo patriarcado”.
Pioneirismo
Criada em dezembro de 1937, há quase 88 anos, a UNE só elegeu a primeira mulher para presidência da entidade em 1982. O pioneirismo coube a Carla Maria Araújo, na época uma estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (Ufba), de 21 anos. Carla enfrentou as adversidades impostas às mulheres em espaços de liderança, mesmo na UNE, entidade com histórico progressista.
“Minha prática no movimento estudantil já me ensinara que o machismo existia e sabia que isto pesaria, mas creio que no final consegui quebrar certas resistências”, comentou Clara em uma entrevista para Jornal “Sou Repórter”, do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep.
A atuação das mulheres nos movimentos estudantis e sociais tem contribuído para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. “Os desafios ainda são imensos. Vivemos numa sociedade patriarcal e machista, mas as mulheres estão aí para romper barreiras e lutar por direitos para que possamos viver com mais equidade, inclusive no meio acadêmico, na universidade”, observa a secretária nacional de mulheres do PC do B, Daniele Costa, mestranda em Ciência Política na Universidade Federal da Bahia (Ufba).