O estudo mostra, ainda, que as mulheres querem mais diversidade na política e valorizam marcadores de identidade e gênero no voto

Para 71% das mulheres brasileiras, a participação política é considerada importante, e as decisões tomadas no âmbito da política afetam diretamente suas vidas. É o que aponta a pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc São Paulo. O estudo analisa os avanços e retrocessos nos enfrentamentos às desigualdades de gênero ao longo dos últimos 30 anos.

No quesito cultura e participação política, o levantamento mostra que 47% das entrevistadas consideram a política muito importante e 24% a avaliam como mais ou menos importante. O interesse é mais acentuado entre mulheres jovens (83% na faixa etária de 18 a 24 anos), com maior escolaridade (89% entre aquelas com ensino superior), com renda familiar mais alta (90% entre as que recebem acima de cinco salários mínimos), empregadas no mercado formal (80%) e estudantes (82%).

Quando observado por faixa etária, o interesse político aparece empatado entre jovens de 15 a 17 anos e mulheres de 25 a 34 anos, ambas com 75% de respostas positivas. Em seguida, vêm os grupos de 35 a 44 anos (71%), de 45 a 59 anos (68%) e, por último, mulheres com 60 anos ou mais (58%).

Apesar da relevância atribuída à política, o interesse diminuiu em relação à edição anterior da pesquisa, realizada em 2010. Houve uma queda de 10 pontos percentuais entre as mulheres que valorizam a participação política. Para uma em cada quatro entrevistadas, o interesse pelo tema reduziu nos últimos anos. A proporção de mulheres que não atribuem importância à política aumentou de 17% para 24% no período.

A pesquisa também evidencia uma baixa taxa de participação política formal. Apenas 8% das mulheres afirmam participar ou já terem participado de grupos, associações, coletivos, organizações, cooperativas, conselhos ou movimentos sociais. Já 11% disseram participar de comícios, passeatas ou manifestações públicas.

Secretária Nacional da Mulher do PCdoB, Daniele Costa

“A política perpassa a vida das mulheres e impacta diretamente nossos direitos, oportunidades e condições de existência. O recuo no interesse político e a baixa participação formal são um alerta para desafios persistentes: a descrença nas instituições, a sobrecarga de trabalho, a violência política de gênero e as barreiras estruturais que afastam tantas mulheres da cena pública”, afirma Daniele Costa, secretária nacional de Mulheres do PCdoB.

Ainda no campo da cultura e da participação política, a pesquisa aponta que as mulheres defendem uma representação política mais diversa, com a presença ampliada de mulheres negras, indígenas e quilombolas nos espaços de poder. Ao analisar os valores que mais influenciam o voto, o estudo revela que marcadores de identidade e gênero têm peso significativo: 81% das entrevistadas afirmaram que votariam em uma candidata por ela ser mulher; 78% por ser negra ou negro; 68% por ser indígena; e 67% por ser evangélica.

Por outro lado, entre os fatores que desestimulam o voto, destacam-se questões ligadas à religiosidade e à legalidade, como o fato de o candidato não acreditar em Deus ou defender pautas como a descriminalização do aborto, da maconha e a legalização da pena de morte

Além da participação política, o estudo aborda temas como representações sociais das mulheres, machismo e feminismo; corpo, sexualidade e saúde; violência de gênero; políticas de proteção e cuidado; e trabalho remunerado e não remunerado. A pesquisa completa pode ser acessada em: https://sl1nk.com/SXzWH.

Metodologia

A terceira edição da pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado foi realizada em duas etapas. Na fase qualitativa, durante a pandemia de Covid-19, em 2021, foram feitas entrevistas virtuais com 65 mulheres cis e trans. Em 2023, a etapa quantitativa ouviu 1.221 homens e 2.440 mulheres. Na segunda edição, realizada em 2010, participaram 2.365 mulheres e 1.181 homens de áreas rurais e urbanas de todas as regiões do país.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *