A luta para ampliar a participação das mulheres na política é cotidiana, sobretudo entre os partidos de esquerda, historicamente ligados às causas feministas e igualitárias. No Brasil, um dos reflexos dessa busca por mais espaço pode ser visto nos flancos conquistados a duras penas em instituições majoritariamente masculinas, como a Câmara dos Deputados. Um exemplo é a presença feminina na liderança de partidos — o PCdoB é o que mais teve mulheres nessa posição nas últimas duas décadas. 

Segundo levantamento feito pelo site Metrópoles, nesses 20 anos, apenas 26 mulheres ocuparam o cargo de liderança partidária na Câmara — o que equivale a apenas 9% do total. O PCdoB está na primeira posição desta lista, com sete líderes ao longo dos anos. São elas: Jandira Feghali (RJ), Alice Portugal (BA), Manuela D’Ávila (RS), Luciana Santos (PE), Perpétua Almeida (AC), Vanessa Grazziotin (AM) e Jô Moraes (MG).

Depois do PCdoB, os partidos que mais tiveram líderes mulheres foram o PSol (5), PSB (3) e o bloco PSB-PCdoB. O site considerou, no levantamento, líderes e representantes de partidos, federações, blocos partidários, maioria, minoria, governo e oposição. Pelas regras da Câmara, somente partidos com ao menos cinco integrantes têm direito à liderança. 

Além de ter ocupado o cargo duas vezes, Jandira Feghali é a segunda entre todas as deputadas mulheres a ficar mais tempo no cargo, num total de 906 dias — a primeira é Joenia Wapichana (Rede), com 1.412. “É um orgulho para nós ter esse dado público porque, de fato, o partido tem valorizado a presença das mulheres não só no processo eleitoral, mas também assumindo o cargo de liderança, o que é expressivo. Há muitos anos que a gente tem lideranças mulheres na nossa bancada e isso mostra a busca de igualdade de direitos e de protagonismo entre homens e mulheres no partido”, disse Jandira ao Portal Vermelho. 

Jandira explica que o terreno no parlamento nacional é ainda árido para as mulheres. “Aqui, as mulheres demoram mais a se impor porque sempre há uma visão de que a gente não tem a mesma competência, nem a mesma capacidade, de tratar de assuntos que sejam, por exemplo, de economia ou de temas centrais da macroeconomia brasileira”. 

A deputada também destaca a dificuldade que existe em ocupar outras instâncias da Câmara. “Sempre é difícil, também, para presidir comissões. Foi nessa última legislatura, agora, que se colocou mulheres na mesa (diretora). Mas no partido a gente tem conseguido. O problema é conseguir esses espaços no conjunto da casa. Pouquíssimos partidos tem liderança mulher”. 

A deputada lembra que no ano passado, ela era a única líder. “Neste ano, parece que só tem uma também, que é do Psol, a Erica Hilton, e houve períodos aqui em que não tinha nenhuma líder mulher. Então, isso é muito grave para o parlamento que representa uma população com maioria de mulheres, com 51% de mulheres no eleitorado brasileiro. Essa expressão precisa se dar também nos espaços de decisão, porque, afinal, é sobre nós que somos a maioria, então as mulheres precisam interferir.

Dados da da IPU (União Interparlamentar, na sigla em inglês) mostram que a Câmara dos Deputados do Brasil é a que tem maior desigualdade de gênero na América Latina, com 17,5% das vagas — em 1998, o índice era ainda menor, 5,7%. Bolívia (46%), Equador (43%) e Argentina (42%) são as que têm as melhores proporções.

Jandira diz que a maior presença de mulheres nos parlamentos pode ajudar na construção de pautas que melhorem a vida da população em geral e da parcela feminina em particular. Mas, faz uma ressalva: “Tem muita mulher aqui machista, que tem a posição do Bolsonaro na questão feminista, mas a presença das mulheres puxa a pauta para esse debate. E a gente tem conseguido avançar em muitos projetos”. 

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por Priscila Lobregatte
Com agências
Colaborou: Christiane Peres

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