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Vamos construir o feminismo popular!

Todo dia uma luta, todo dia uma esperança! 

É o que está na garganta de cada brasileira que luta pela vida no Brasil da pandemia, dos direitos retirados, do respeito ignorado, da democracia usurpada.

As muitas lágrimas derramadas por milhares de mortes ainda não pararam. São vidas que se foram pela pandemia, porque um presidente irresponsável determinou que era só uma gripezinha. 

Vidas que se foram porque jovens negros da periferia estavam na mira da “bala perdida” de um Estado repressor e racista. Simplesmente pela cor de sua pele, negros e negras, sempre acusados, desde a escravidão. 

São vidas das mulheres, que como tal, são agredidas e morrem na invisibilidade de suas casas, o que piorou com a pandemia e o isolamento social. Muitas, recolhidas em suas casas, ficaram mais tempo com seus algozes. Mulheres que trabalham, negras e não negras, mulheres LBTs, desempregadas, com deficiência, que estudam, sonham, criam as crianças, cuidam da casa, são chefes de família.

São vidas de mulheres comuns: assediadas, ameaçadas, assassinadas.

Todo dia uma luta, todo dia uma esperança! 

Tempos difíceis esses que vivemos. O Brasil enfrenta uma virada histórica de grandes proporções, atacaram a democracia para manter privilégios diante da crise econômica, que se alastra agora com mais força. Usaram, inclusive, de preconceitos machistas para dar o golpe que tirou Dilma do poder. A pandemia parou atividades econômicas e sociais no mundo e no Brasil e deixou mais evidentes as desigualdades que provocam tanto sofrimento.

A crise do capitalismo, somada à pandemia, levou ao empobrecimento ainda maior da grande maioria da população, enquanto os ricos ficaram mais ricos. O capitalismo não pode salvar a humanidade das crises que ele mesmo provoca ou intensifica: econômica, ambiental, social, sanitária e humanitária. A alternativa que apresenta serve apenas para preservar ricos e poderosos. Na crise que recai sobre a classe trabalhadora se acirram o racismo e o machismo. Quando tudo está ruim, está pior para as mulheres, em especial para as mulheres negras.

Mas o sofrimento causado pelo capitalismo enfrenta resistências. Na pandemia, Cuba e China, socialistas, vêm mostrando que é possível uma sociedade que valoriza mais a vida que o lucro: são os países que melhor protegeram a saúde de seu povo.

Todo dia uma luta, todo dia uma esperança!

No Brasil, Bolsonaro corta recursos públicos para áreas como saúde e educação, enquanto quase metade do que o Estado arrecada vai para os bancos e parasitas da finança. Aposta na venda do patrimônio público a preço de banana para o setor privado. Alimenta a política do ódio, libera o porte de armas, tem responsabilidade no aumento de feminicídios no país. Seu governo desmonta políticas e equipamentos públicos de cuidado, como as creches, o que representa, para as mulheres, mais trabalho dentro de casa e menos emprego fora.

A pandemia chega. E com ela o trabalho redobrado para quem cuida do país. As mulheres são maioria dentre profissionais de saúde e educação. Cuidam de pais e filhos. Tentam garantir comida na mesa e ainda enfrentam a violência doméstica, que só aumenta. Neste período, lamentavelmente, o Brasil foi o país onde mais mulheres grávidas e puérperas morreram no mundo, concentrando 77% das mortes mundiais. Com a dolorosa constatação de que, mortalidade materna em mulheres negras devido à Covid-19 foi quase duas vezes maior que a observada em mulheres brancas. A garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, tão atacados pelo governo Bolsonaro deve ser uma das prioridades de nossa resistência.

Antes mesmo que os efeitos do coronavírus chegassem à nossa terra, as mulheres recebiam 79,5% do salário dos homens, mesmo com o nível educacional mais alto e mais qualificação (IBGE: 2019). Gastam 73% de horas a mais que os homens com os cuidados de pessoas e os afazeres domésticos. No caso das mulheres negras este índice é ainda maior. E, 63% das casas chefiadas por mulheres negras têm rendimento que as coloca abaixo da linha de pobreza. Porém, desde sempre, elas resistem, se insurgem, com esperança e criatividade, vão seguindo e ajudando a construir nosso imenso país.

Todo dia uma luta, todo dia uma esperança! 

A luta pela vida é uma bandeira feminista. Nas esperas ao lado dos poucos leitos de UTI. Na defesa de mais recursos para o SUS. Nas redes solidárias garantindo comida na mesa, sabão e álcool gel para quem não tem e máscaras costuradas por mãos amigas.

Com muitos sacrifícios, fazemos nossa parte. Porém só a vacina poderá nos tirar desse caos. De novo, Bolsonaro nos dá as costas e joga com a vida de milhões de seres humanos. Não há um plano real para vacinar a população. Seu governo patina entre a omissão incompetente e o boicote criminoso.

É nosso direito sermos vacinadas de forma segura e gratuita pelo SUS! Exigimos a vacinação massiva de toda a população, com prioridade para profissionais de saúde, da educação e cuidadores e cuidadoras.

Todo dia uma luta, todo dia uma esperança!

Nossa luta vale a pena! Mulheres parlamentares arrancam conquistas contra o descaso do governo Bolsonaro, conseguindo maior valor do auxílio emergencial para as mães chefes de família. Há uma crescente mobilização de mulheres ao redor do planeta e uma onda feminista se espalha no Brasil.

A sociedade machista e racista cobra o preço dessa rebeldia. Recrudesce, como nunca, a violência política de gênero, sobretudo com o uso da mentira através de fakenews. Violência que se expressou na campanha da candidata comunista Manuela D’Ávila à prefeitura de Porto Alegre — quase meio milhão de posts com baixarias e grotescas agressões denunciados. Violência que ceifou covardemente a vida da vereadora carioca Marielle Franco.

Não vão nos calar! Somos construtoras do feminismo popular. Defensoras do pensamento emancipacionista, que luta para construir a autonomia econômica das mulheres, a liberdade de viver e o direito de escolha sobre o que fazer: sermos mães ou não, viver o amor que nos faça felizes, respeitando a diversidade humana e cultural.

O feminismo popular, do qual somos expressão, articula uma ação unificada através do movimento Mulheres Comuns Querem Poder, para dizer: Todo dia uma luta, todo dia uma esperança!

Por isso, conclamamos as brasileiras a uma intensa participação política, com o objetivo de mudar o rumo do país. Lutamos pela retomada da democracia, do crescimento econômico, do trabalho decente e da manutenção dos direitos sociais, rumo à construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, caminho socialista para o Brasil.

Somos feministas que queremos construir a liberdade de todas as mulheres. E sabemos que, para isso é preciso lutar pela liberdade de toda a humanidade.

3ª Conferência Nacional do PCdoB Sobre a Emancipação da Mulher

São Paulo, 21 de janeiro de 2021