O protagonismo das mulheres e da luta antirracista são fenômenos marcantes da contemporaneidade.

Por Ana Rocha*

A conjuntura de crise estrutural do capitalismo; de crise sanitária; a crise política de um governo conservador de ultra direita evidenciou ainda mais a discriminação das mulheres, suas condições precárias de trabalho, na maioria informal, a sobrecarga doméstica e de cuidados, bem como o aumento da violência de gênero, com aumento dos feminicidios, para não falar da violência política que se abateu com força sobre as mulheres nas últimas eleições.

O PCdoB sempre manteve a marca marxista de entender a luta pela emancipação das mulheres entrelaçada com a luta de classes e a luta antirrascista, como parte do processo da formação econômica, política, social  e  histórica brasileira. Trata o tema como estratégico e por isso mesmo, incluiu no seu estatuto, criou Secretaria da Mulher e Fórum Sobre a Emancipação das Mulheres. E o ineditismo das Conferencias Partidárias sobre a Emancipação das Mulheres. Não é por acaso, portanto, o protagonismo das mulheres comunistas no Partido e na Sociedade.

É dando continuidade a essa trajetória que será realizada a 3 Conferencia sobre a Emancipação das Mulheres.  Os debates da Conferencia  serão feitos no sentido de entender o novo contexto político, econômico e social, o efeito da onda conservadora contra as mulheres, a tentativa de redesenho  do papel social das mulheres, tentando o retrocesso de suas conquistas. Esse redesenho interessa ao capitalismo em crise: empurrar as mulheres para o espaço privado , responsáveis pelos cuidados, sem políticas públicas, dificultando a sua participação social e política. Essa tentativa faz parte da ofensiva conservadora de travar o avanço e a democracia.

As Eleições Municipais de 2020, que  impuseram derrota ao Bolsonarismo, mas com êxito da direita, apresentaram  avanço moderado da representação das mulheres. No caso do PCdoB, o destaque foi a grande votação da Manuela D Ávila em Porto Alegre. Importante foi o papel protagonista da Secretaria Nacional de Mulheres  em articulação com as Secretarias Estaduais no sentido de reforçar as candidatas do PCdoB, sobretudo nas capitais. O resultado não foi o esperado, mas temos de atentar para essas lideranças que ousaram disputar e para aquelas eleitas em cidades importantes como Porto Alegre, Recife, Campina Grande, Niterói, dentre outras.

Fica o desafio de entender os muitos obstáculos à  participação política das mulheres, tudo a ver com sua opressão histórica, com a onda conservadora e machista em curso,, com uma legislação eleitoral restritiva.  E sobretudo é fundamental superar a sub-representação política das mulheres, com um amplo leque de medidas. Focar nas Eleições de 2022, com medidas concretas para fortalecer desde já as lideranças mulheres.

Uma Política de quadros para as mulheres  leva em conta o contexto acima e pressupõe:

1 – Traçar um perfil das mulheres na estrutura partidária; seu potencial de militância;  possível realocação e promoção na estrutura partidária. (Analisar a Pesquisa feita e voltar a realizar outra)

2 –  Entender a realidade das trabalhadoras, levando em conta sua sobrecarga, e maior dificuldade de militância

3 – Mapear os quadros oriundos  da juventude e sua possibilidade de militar na luta e entidades emancipacionistas…

4 – Uma Política de formação descentralizada e abrangente, voltada para os quadros, mas também acessivel as militantes e filiadas.

5 – Uma Política de Comunicação, mais interativa com o conjunto das mulheres, com debate de temas em pauta, dando visibilidade à luta cotidiana das mulheres. Ao mesmo tempo que dê dinamismo à luta de idéias em curso na sociedade sobre temas candentes do movimento feminista.

6 –  Capacitar politicamente as pré-candidatas, como  porta-vozes do partido e da política emancipacionista. Criar condições continuadas  para seu enraizamento e protagonismo.

7 – Reforçar a ação da Secretaria Nacional de Mulheres do PCdoB, bem como das Secretarias Estaduais e Municipais, com investimento prioritário nas capitais do sudeste, onde o desempenho eleitoral do PCdoB encontrou mais dificuldade.

8 – Aproveitar o processo da 3 Conferencia sobre a Emancipação das Mulheres para a eleição dos Fóruns Estaduais e Municipais sobre Emancipação  das Mulheres, compostos de dirigentes homens e mulheres, para que impulsionem o debate e ações visando a emancipação das mulheres.

9 – O PCdoB precisa  destacar, dar visibilidade, à marca das mulheres em suas fileiras,  ao protagonismo de sua luta e garantir sua presença  e participação no debate e nas mesas dos eventos partidarios. Tomar medidas concretas para minimizar os sacrifícios individuais devido à sobrecarga doméstica e aos preconceitos machistas seculares  que afetam e dificultam  o protagonismo político das mulheres.  Entender, que neste contexto de crise e onda conservadora, as mulheres encontrarão maiores obstáculos à sua participação social e política.Que elas estarão mais sobrecarregadas na luta pela sobrevivência, sem renda fixa, na maioria  mães solas, em meio à redução de políticas públicas, mais vulneráveis e expostas à violência geral e de genero. Lembrar  sempre que as mulheres negras são  ainda  mais  discriminadas e ainda sofrem a dor da  perda de seus filhos, vitimas da violência de toda ordem.

18 de janeiro de 2021

*Secretária da Mulher do PCdoB-RJ, do Comitê Central do PCdoB, da Coordenação do Fórum Nacional do PCdoB sobre a Emancipação das Mulheres

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