Os estudos e teorias de gênero nascem de um movimento social em direção à emancipação. O movimento feminista organizado em três ondas, traz no seu bojo de discussão novas focos de estudos, aponta prioridades, muitas leituras e novas linguagens e novos métodos.

Por Terezinha Lucia de Avelar*

A primeira onda surgiu, no final do século XIX, com o movimento das sufragistas que lutaram pelo direito de voto das mulheres. A segunda onda surgiu nos anos de 1960, na segunda metade do século XX, visando a igualdade de direitos, em especial direitos sociais – inserção no mercado formal de trabalho, igualdade salarial, acesso à escolaridade em grau superior, dentre outros – entre mulheres e homens. A terceira onda, surgida no final do século XX, propõe a multiplicidade de feminismos (ecofeminismo, transfeminismo, feminismo negro, feminismo jovem, feminismo lésbico entre outros) problematizando a universalidade do sujeito mulher e incorporando os estudos das masculinidades. Penso que a partir disso podemos perceber que o termo gênero foi ampliando sua concepção iniciada como um sinônimo de mulher, para as relações entre mulheres e homens na sociedade, considerando seu tempo, história e cultura numa ótica multidisciplinar.

Realmente precisamos decifrar e falar do feminismo numa linguagem mais popular, sem discursos acadêmicos, precisou dialogar com as mulheres. Quais mulheres? Todas elas e com toda a sociedade na sua diversidade. Discutir o feminismo popular é falar de corpos, dos mais diversos corpos, de desejos em sua diversidade e apontar para apenas um rumo que é a defesa da vida das mulheres com equidade de gênero e sobretudo fazer uma análise crítica do patriarcado que nos acompanha há anos. O feminismo nos leva à luta por direitos de todas, todes e todos e que significa pensar em libertação do corpo, o direto de identificarmos e descortinarmos as telas para expressões de gênero e sexualidade. De que lado você me olha? É uma boa pergunta! É assim o processo democrático! Indagações e o debate está posto aqui no texto e para a nossa vida!

Nossa 3ª Conferência do PCdoB, pode nesse momento, abrir espaço para essa discussão de gênero numa perspectiva de equidade e o debate pode ser compreendido como uma categoria de análise, de raça, classe social, religião, entre outras. Uma abordagem que não se afaste da perspectiva da interseccionalidade, mesmo porque tais categorias articulam-se, produzindo relações de poder desiguais, na sociedade. Uma abordagem que enfatize o seu aspecto relacional, pois nos constituímos homens e mulheres e construímos nossa identidade nas relações sociais, afetivas, familiares e comunitárias onde nos estabelecemos. Podemos dizer que as relações de poder, quando assimétricas e desiguais, geram submissão, discriminação e violência. Quando elegemos um modo de ser homem e de ser mulher como único, certo e normal, todos os outros que não seguem o padrão estabelecido serão considerados errados e patológicos, sendo excluídos ou levados a se adaptar ao modo hegemônico. Exemplifico o caso da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTQI +) que apesar de todos os marcos legais nacionais e internacionais e de todo acúmulo de estudos acadêmicos, ainda são considerados como curvas da norma padrão.

Afinal são muitas as formas de estarmos no mundo e o que importa é podermos a partir de hoje dialogar no sentido do entendimento que a equidade é possível e é uma luta pelos direitos humanos. Direito à saúde, educação, moradia, alimentação, lazer, ócio, direito à vida digna, direito à voz e direito ao pertencimento.

A promoção da equidade fará desaparecer as relações de poder entre homens e mulheres? Pode ser que não, mas poderá produzir relações equânimes, justas, solidárias e democráticas.

*Terezinha Lucia de Avelar (Tetê Avelar) é Geógrafa-Professora. Presidenta do CMDM- Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres /PBH. Secretária Adjunta de Mulheres da CTB- Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. Integrante da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher/MG.

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4 Comentários

  1. outro dia vi uma entrevista da Gabi Amaranto dizendo da forma de falar do feminismo com as ribeirinhas, as mulheres do sertão, aquelas outras que não estão nas academias nem leram a Djamila… Então concordo total do diálogo ser papo reto e não algo “hermético” de grupos seletos

  2. Muito bom, Lu.
    De Gabi Amaranto:

    Aprende a me amar/ Não me fazer chorar/ Você não entendeu/ Agora eu sou mais eu/ Não quis valorizar/ Cansei de te aturar/ Otária já morreu/ Agora eu sou mais eu/ Sou mais eu, sou mais;, diz trecho da canção. Sobre a escolha pela sutileza no discurso, ela explica: ;Eu sou uma mulher do Norte e sei do índice de violência contra a mulher lá. Faço uma música assim para chegar à mulher ribeirinha que não faz ideia do que é o feminismo.

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