Muito longe de serem uma “fraquejada”, como o atual presidente se refere a 52% da população brasileira, as mulheres têm sido liderança nos processos de luta, trazendo novos elementos e novas formas de atuação em especial no campo da cultura.

Por Terezinha Lucia de Avelar*

Com a disputa ideológica no centro da luta, a cultura assume um papel ainda mais central. Fortalecer os movimentos culturais significa fortalecer a luta do povo por direitos. Na retrospectiva da resistência feminista contra os desgovernos que marcaram o ano, podemos afirmar que em 2019 as mulheres foram exemplo de força, organização e resistência, abrindo caminho para um 2020 com ainda mais potência para barrar retrocessos e conquistar novas vitórias.

Para pautar o aumento da violência contra as mulheres em Minas Gerais, a Frente Brasil Popular organizou, com artistas da cidade, o Festival “Vivas Nos Queremos” no 25 de novembro, Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher.

O festival contou com a presença de vários blocos coordenados por mulheres e com muitas delas à frente na condução da bateria, na música. Enumerar blocos que saem com mulheres na sua organização faz parte de uma lista imensa. São blocos de carnaval femininos e feministas, que colocam no centro a participação das mulheres. E o mais importante, os blocos atuam para além do carnaval, fortalecendo as lutas dos movimentos populares.

Bruta Flor, Baque de Mina, Baque Mulher, Manas com Vida, Truck do Desejo, Garotas Solteiras foram alguns dos blocos que se apresentaram. Além desses blocos, são também inúmeras as bandas e coletivos de mulheres na percussão, no pandeiro, nos tambores e tamborins, além de uma série de coletivos ligados ao Hip-Hop e ao graffite, que é ainda muito marginalizado. Cultura e arte que dialogam com as mulheres lésbica-trans.

No dia 8 de março e no Carnaval a luta é com a presença em massa de mulheres: mulheres contra as reformas trabalhistas, previdenciárias e contra a retirada de direitos. Estamos na ala das baianas, mas ocupamos agora todo o cortejo e a bateria e influenciamos no repertório e na voz que puxa o samba, a marcha, o ejexá e sei que ainda temos muitas lutas pela frente.

Estávamos nas ruas por justiça para Marielle e para as vítimas da Vale em Brumadinho. O ato reuniu mais de 30 blocos de carnaval em BH e grande maioria com as mulheres na organização e na composição.

Em Minas Gerais, as mulheres realizam manifestações culturais contra o fascismo desde 20 de setembro de 2018 e, exatamente uma semana antes das eleições, mulheres de todo o país saíram às ruas para denunciar o fascismo e o conservadorismo, representados no candidato à Presidência da República e aconteceu num sábado em, pelo menos, vinte capitais brasileiras.

A articulação das mulheres ganhou força após um grupo criado nas redes sociais que reúne mais de 2,5 milhões de participantes. Em Belo Horizonte, a ação foi convocada por mulheres artistas da capital e por militantes feministas.

Mulheres na cultura precisa ser tema da nossa 3ª Conferência de Mulheres do PCdoB

As mulheres sobrevivem de inúmeras atividades culturais: dança, teatro, música, artesanato, culturas tradicionais e urbanas, circo, contação de histórias, audiovisual, cineclubes, compositoras, literatura, DJs, MCs, roteiristas, gastronomia, moda, produtoras, influenciadoras digitais entre outras. Além disso, há também profissionais que acompanham os coletivos e grupos exercendo funções nas áreas de fotografia, designer, produção, maquiagem, figurino, em sua maioria na informalidade.

A crise causada pela pandemia da Covid-19 é mais dramática para as mulheres e empurra grande parte da força de trabalho feminina de volta para casa. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostrou que 7 milhões de mulheres abandonaram o mercado de trabalho na última quinzena de março, quando começou a quarentena. São dois milhões a mais que o número de homens na mesma situação. Além da demissão, elas têm mais dificuldades para procurar uma vaga e se manter no mercado.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é primeira vez nos últimos três anos que a maioria das mulheres está fora do mercado de trabalho e em 2020 o número aumentou ainda mais.

Não podemos esquecer que quando há uma crise, as mulheres geralmente são as mais afetadas. Apesar de terem um nível educacional mais alto que os homens, são as mulheres que formam a maior parcela de ocupações informais, de meio período e de serviços, setores que foram altamente impactados. Além disso, as mulheres estão mais sobrecarregadas de trabalhos domésticos e com as crianças que estão fora da escola. E, entre as mulheres, há as que estão em pior situação, como as negras e mães solos.

Aumento da desigualdade

O aumento da desigualdade acentua, e estudos de economistas mostram, a exposição maior das mulheres à recessão: elas são maioria nas atividades mais afetadas pela crise. Representam 52,1% entre as mais vulneráveis. Nas funções menos afetadas, a presença masculina é maior: 61,8%. Avaliamos que a crise atual deve aprofundar as desigualdades de gênero.

Nossa “3ª Conferencia de Mulheres do PCdoB” pode, nesse momento, abrir o debate sobre uma questão tão relevante e atual: quais os caminhos para novas relações de trabalho para mulheres? É uma indagação!

A Cultura foi a primeira que parou e será a última a voltar. O que temos para propor para as mulheres nesse momento?

*Terezinha Lucia de Avelar (Tetê Avelar) é Geógrafa-Professora. Presidenta do CMDM- Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres /PBH. Secretária Adjunta de Mulheres da CTB- Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. Integrante da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher/MG.

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6 Comentários

  1. Uma linha do tempo recente e que mostra além da nossa força e resistência o qto ainda temos que lutar para que a diferença de espaço na sociedade não seja tão exorbitante. Mas fica claro que qdo atuamos no coletivo ficam de olho….. Bom demais!

  2. O que temos para propor para as mulheres nesse momento? Boa pergunta!! As mulheres foram as primeiras a perder o emprego. As mulheres negras estão sempre em situação vulnerável. Essas mulheres precisam de apoio!!

  3. “Fortalecer os movimentos culturais significa fortalecer a luta do povo por direitos. ” é exatamente isso!!! Fortalecer e ampliar no sentido de compartilhar o acesso à arte e a cultura propicia uma mente aberta e pronta pra luta dos direitos

  4. O texto faz uma retrospectiva da atuação das mulheres nas diferentes esferas sociais e o quanto as mesmas vêm assumindo o protagonismo nas lutas para transformar o país. É preciso que os partidos de esquerda reconheçam este protagonismo com ações concretas.

  5. O texto faz uma retrospectiva da atuação das mulheres nas diferentes esferas sociais e o quanto as mesmas vêm assumindo o protagonismo nas lutas para transformar o país. É preciso que os partidos de esquerda reconheçam este protagonismo com ações concretas para o fortalecimento da luta das mulheres.

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