O PCdoB tem trajetória marcada pela coragem e arrojo, em especial diante de conjunturas mais complexas e desafiadoras como a que vivemos na atualidade. Nessas condições, à luz da estratégia de superação do neoliberalismo, formula suas táticas com realismo e flexibilidade, a “análise concreta da situação concreta”, para o que examinar acuradamente a correlação de forças em embate na sociedade é crucial, como orientava Lenin. Sem isso, e sem uma sistematização histórica e teórica do país onde as e os comunistas lutam, arrisca-se a ficar fazendo movimento pelo movimento sem achar as efetivas possibilidades de superação dos desafios.

Por Elza Maria Campos*

Em curso os debates preparatórios da 3a Conferência sobre a Emancipação da Mulher, também tem o Partido na sua respectiva “Tribuna de Debates” mais um fórum importante para o entrechoque de visões sobre como a militância comunista pode achar fios condutores e propostas factíveis para trazer e organizar centenas de milhares de mulheres para as lutas emancipatórias delas e de toda a sociedade. Pois não se trata de concordar tacitamente ou meramente reforçar as assertivas do documento-base, cujo papel é de servir de acendedor da troca de opiniões. 

Esse documento da 3a. CNEM, nos itens 55, 62 e 81, fala da importância de o feminismo emancipacionista popularizar-se, mais extensivamente, para levar seus pontos de vista e diretivas de luta a um contingente muito mais significativo de mulheres do que já alcançou até hoje. Para atualizar entre tais contingentes uma compreensão do estágio a que se chegou de profundíssimas desigualdades, violências e injustiças engendradas pela corrente etapa do sistema capitalista em crise crônica.  No Brasil, sob o desgoverno neofascista genocida de Bolsonaro, a cada dia fica mais e mais evidente seu autoritarismo e pendor ao derretimento da frágil democracia, sua obsessão em desmontar políticas públicas e conquistas sociais históricas do povo, dos trabalhadores, em especial as das mulheres, com perda de direitos, e em ofensivas fundamentalistas na chamada “área de costumes”.  Bolsonaro, e seu governo de militares e outros adeptos, investem contra o protagonismo político e social das mulheres, delirando em colocá-las confinadas de volta ao espaço privado “do lar”, recatadas, obedientes, submissas, num Brasil em pleno século 21! Ignora o truculento ex-capitão expulso do Exército que isso é impossível na medida, por exemplo, em que hoje mais de 45% das famílias são chefiadas por mulheres e que alcançaram patamares de 57% do total de matriculadas em universidades em todo o pais.

Marx demonstrou como o sistema capitalista, por suas contradições internas, passa por cíclicas crises. Com o advento da etapa monopolista-imperialista, o sistema já passou por duas Guerras Mundiais, se recompôs após cada uma delas, mas de novo adentrou, há anos, em débâcle que leva centenas de milhões de seres humanos a não terem de onde tirar sustento, moradia, saúde digna, educação, perspectivas. O capital sobrevive, acumula-se, multiplica-se, reproduz-se da geração de valor pelo trabalho humano. E, no entanto, cada vez mais a força de trabalho humana é descartada. As potencialidades das pessoas para a criação de conhecimento e de riquezas são imensas, mas o sistema econômico ainda prevalente no mundo impede que isso seja socializado e convertido em benefícios para todos e todas. A lei geral de acumulação do capital, estudada por Marx em “O Capital”, indica a busca aflita pelo lucro, a qualquer custo, e em nosso mundo contemporâneo isso atinge o auge, à procura da mais elevada produtividade e da maior exploração da classe-que-vive-do-trabalho.

A história de luta das mulheres por seus direitos, pelo reconhecimento de sua condição humana, desnuda a raiz da opressão exercida pelo sistema capitalista, articulado com racismo e patriarcado na vida das mulheres e da classe trabalhadora, sendo no Brasil, tão longa quanto a história do país.

Cabe ao PCdoB reconhecer ainda mais o papel histórico das mulheres, em particular daquelas mais invisibilizadas para conquistar novos patamares de organização e de transformação social. Cabe ao Partido, homens e mulheres, compreender o feminismo emancipacionista como sinônimo de socialismo. Levar a corrente feminista emancipacionista, propagandeá-la em todos os rincões do país, mas também fazer, descobrir atitudes, iniciativas e modos concretos de agir, imergindo sempre mais no cotidiano da vida das mulheres do povo. É tarefa fácil? Com certeza, não é. Porém, o jovem Marx assinalava: “A Humanidade nunca se colocou problemas (perante si) que não pudesse resolver”.

Clara Zetkin, em 1889, afirmava: “As mulheres operárias estão totalmente convencidas de que a questão da emancipação das mulheres não é uma questão isolada. Sabem claramente que esta questão na sociedade atual não pode ser resolvida sem uma transformação básica da sociedade […]. A emancipação das mulheres, assim como de toda a humanidade, só ocorrerá no marco da emancipação do trabalho do capital. Só em uma sociedade socialista as mulheres, assim como os trabalhadores, alcançarão os seus plenos direitos. (Zetkin apud González, 2010, p. 61).

A corrente feminista emancipacionista tem que ampliar sua ação em um país onde a herança da colonização impõe que a luta das mulheres seja portadora de um conteúdo anticolonial, antipatriarcal e anticapitalista, ou seja, compreender a indissociabilidade da luta contra o capitalismo, a opressão patriarcal e o racismo, no cotidiano da vida das mulheres jovens, negras, indígenas, idosas, LGBTs.

De que forma a corrente feminista emancipacionista vai mais e melhor enraizar-se no chão em que labutam as mulheres do povo? As entidades dirigidas pelas comunistas tem essa imediata tarefa. Entendemos que a União Brasileira de Mulheres (UBM), como herdeira e protagonista dessa luta histórica, unificada com a  Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), poderão transformar-se ainda mais em instrumento e fermento de mobilização de milhões de brasileiras. Nesta quadra histórica, referendando o item 62 do documento-base, as entidades emancipacionistas devem assumir feição e prática de um feminismo popular, na abordagem e na ação concreta na compreensão da vida das mulheres, ganhar as mulheres comuns, para o sentimento revolucionário, para uma militância que irradie possibilidades, que fortifique laços de generosidade, esperança e paixão pela vida.

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Elza Maria Campos* é secretária estadual da Mulher do PCdoB do Paraná e do fórum nacional sobre a emancipação da Mulher do PCdoB.

(BL)

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