Estamos na 3a. Conferência Nacional do PCdoB sobre Emancipação das Mulheres, a nossa 2a. Conferência aconteceu há 12 anos, então o desafio é grande para a atualização da teoria política feminista e organizativa do Partido, em tempos de Pandemia.

Por Dani Costa*

Nós sabemos que o feminismo é construído por diversas vertentes, não nos referimos mais ao feminismo no singular, falamos feminismos, no plural, assim como mulheres, nós nos referenciamos partir desse lugar, de mulheres nas suas diversidades entendendo essa questão como importante para a luta da igualdade de gênero, entendendo que as diferenças precisam ser saudadas, as diferenças precisam ser entendidas como um marcador de riqueza na construção de uma sociedade, de um país. As diferenças não podem ser conformadas em desigualdades.

Por eu ser uma mulher negra, e outra ser uma mulher branca, nós somos diferentes, mas os nossos lugares não devem ser compreendidos a partir das desigualdades tão próprias de uma sociedade que se estrutura pelo racismo, pelo sexismo, pelos valores patriarcais. Nós buscamos, tanto eu, quanto Julieta Palmeira, Alice Portugal, quanto Olívia Santana, quanto todas as mulheres que estão aqui presentes e os homens também, a igualdade entendendo que nós somos diferentes, sim. Entendendo que essa é a nossa riqueza, é o nosso patrimônio. Por isso é importante a gente sempre valorizar a pluralidade.

A pluralidade começa a partir desse entendimento: não existe só um tipo de feminismo, existem os feminismos e nós integramos a corrente política que entende o feminismo por meio da luta de classes, pela estruturação das classes sociais tão bem definida pela nossa referência teórica Karl Marx.

As nossas contribuições bebem nas fontes marxistas, das formulações de Marx, Lenin, Engels, Gramsci, Alexandra Kollontai, Loreta Valadares. A partir disso não há

como analisar a luta feminista no Brasil sem entender a crise estrutural do capitalismo e o impacto entre as mulheres, isso é fundamental.

Nossa vertente feminista considera o entendimento do contexto político – social conjuntural que é movido pelas relações de trabalho construídas historicamente em nossa sociedade, porque existem aqueles feminismos que entendem a partir de valores culturais, existem vertentes culturalistas e liberais que acham que basta a gente lutar pelo empoderamento da mulher dentro dessa estrutura capitalista que nós seremos assim assimiladas pela sociedade do capital, NÃO.

O nosso feminismo luta pela mudança radical da sociedade e para isso precisamos entender a crise que o capitalismo vive e o impacto dessa crise entre as mulheres.

Nós estamos em uma nova etapa do capitalismo financeirizado, se antes nós tínhamos um mundo bipolarizado com a Guerra Fria, as civilizações atuais vêm construindo a multipolaridade da geopolitica. Tivemos a chance de vivenciar esses impactos nos governos da esquerda que também fortaleceram o campo multipolar, nós tínhamos a relação do Brasil com a Índia, China, África e América Latina, garantindo a nossa soberania.

Essa fase de transformações da economia produtiva têm um impacto muito forte da indústria produtiva tecnológica e isso aumenta de fato as desigualdades e concentração de renda, porque essa etapa do capitalismo, produtiva, tecnológica exige uma classe trabalhadora muito diferente das décadas de 70, 80 e até mesmo da década 90. Exige uma qualificação dessa classe trabalhadora o e boa parte está excluída das novas condições de relação de trabalho.

O nosso camarada Clóvis Moura já abria caminhos para refletirmos sobre as transformações da classe trabalhadora e das relações de trabalho quando ele apontava , por exemplo, os trabalhadores descartáveis, analisando como a população negra, na história das civilizações, sempre foi considerada uma força produtiva facilmente descartável. Primeiro, porque a população negra sempre esteve excluída em grande maioria do acesso à educação pública e profissionalizante da qualificação exigida nas relações de trabalho. Não à toa a população negra sempre foi força de trabalho precarizada. Importante afirmar que não houve políticas de inclusão socioeducacional da população negra a partir da abolição formal no Brasil, por isso que Angela Davis diz que a nossa luta ainda é a luta abolicionista, pela busca da liberdade plena e civilizatória. Nós conquistamos do ponto de vista dos direitos formais, o direito de a ter liberdade, mas substantivamente continuamos excluídas, confinadas nas periferias das grandes cidades, sem direito a uma educação de qualidade, sem direito a exercer uma força produtiva criativa nas relações de trabalho, saneamento básico, moradia digna.

Nós do PCdoB, ao apontar essa realidade, não fazemos uma leitura catastrófica sobre a capacidade do povo resistir em luta, ao dizer: – que estamos em um mundo do capitalismo financeirizado, com relações de trabalho em mutações, aumentando o desemprego, as desigualdades sociais e a concentração de renda, mas o caminho é a barbárie, NÃO.

Para nós o caminho é da resistência, precisamos esperançar, porque ao constatarmos que nós estamos nesse caos, principalmente aqui no Brasil, onde a extrema direita assumiu e conduz a política em nosso país, nós precisamos apresentar uma alternativa, de lutas políticas de resistência numa construção de um projeto nacional de desenvolvimento.

A nossa alternativa não será pelo capitalismo, a resposta não virá do capitalismo e sim pela resistência e pela luta por uma sociedade socialista. No Brasil, a nossa democracia está ameaçada desde o golpe a presidenta Dilma. O golpe que sofremos em 2015, já foi um ataque direto à democracia. Algumas pessoas diziam que o sistema político no Brasil sobreviveria sem grandes arranhões a democracia brasileira, que já tinhamos superado crises instituicionais esvaziando o contéudo da disputa política do Poder. Importante revisitar a mémoria que alguns setores, inclusive do nosso campo, acreditavam de que tínhamos condições de sobreviver, que a democracia não estava sob ameaçada, porque o sistema democrático de direitos é consolidado pela Carta Constitucional de 88, entretanto, o PCdoB já tinha a leitura de que a nossa democracia estava sob ameaça, porque não era um ataque pontual ao projeto político em curso pelos partidos de esquerda e centro-esquerda pelo candidato derrotado do PSDB Aécio Neves nas eleições de 2014, não era apenas uma movimentação do PSDB, para questionar o resultado eleitoral ou apenas um processo de impeachment por crime de responsabilidade fiscal da presidenta Dilma.

A agenda não era só essa. Crescia uma onda conservadora no país, uma onda que era representada por diversas vozes, não apenas pelo PSDB, porque existia uma outra voz representando as forças conservadoras no Brasil. Existia a voz de Bolsonaro e muitos subestimaram naquele momento, aquela voz. E essa voz se apresentou com muita força popular, porque mobilização popular não é somento impulsionada pelos setores avançado e progressista de uma sociedade, também se movimenta pela via da direita e de extrema direita.

Existia a voz de Bolsonaro também naquele Congresso e existia um projeto político eleitoral até então sendo construído pela família Bolsonaro, ele já pensava na eleição presidencial deste a derrota do PSDB com Aécio Neves, em 2014.

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*Texto transcrito da Fala de Daniele Costa pelas integrantes da Comissão Estadual de Mulheres do PCdoB-Bahia: Karla Ramos, Juliana Campos com a parceria da Mariana Paixão. (parte 1)

(BL)

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