O Encontro de Mulheres para debater a tese da Conferência Nacional de Combate ao Racismo do PCdoB realizado na noite desta quarta-feira (5), em plataforma virtual, contou com a explanação da professora doutora em Ciência da Literatura da UFRJ, deputada estadual do PCdoB-RJ, Dani Balbi.

Por Eliz Brandão

A secretária nacional da Mulher do PCdoB, Daniele Costa saudou as participantes da plenária e ressaltou a importância de ter uma organização política como o PCdoB como ferramenta de luta.

A conferência nacional visa mobilizar mais e mais mulheres, LGBTQIA+ e indígenas na luta antirracista e por um novo projeto nacional de desenvolvimento para o país. Participação essa que colaborará com o avanço de políticas públicas que combata o racismo em sua raiz, disse a dirigente. “O encontro de mulheres é importante para entender a origem do racismo e como podemos reparar o que o povo negro sofreu historicamente no Brasil”.

Daniele recordou que as mulheres negras ainda tem pouca presença nas casas legislativas. “Somos poucas, mas precisamos nos preparar para disputar as eleições, como no ano que vem, às câmaras municipais, furando as barreiras impostas por este sistema político”.

Mais de cinquenta pessoas, entre mulheres e homens participaram do encontro que contou com a participação de dirigentes e militantes de diversos estados, como Bahia, São Paulo, Goiás, Paraíba, Mato Grosso, Minas, Rio de Janeiro e o Distrito Federal.

Saudou a reunião, a vereadora de Campina Grande, na Paraíba, Jô Oliveira, primeira mulher negra a ser vereadora da cidade, a secretária adjunta da Mulher, Márcia Campos, algumas integrantes do Fórum Nacional de Mulheres do PCdoB, como a professora Lucia Rincon, a secretária municipal da Mulher do PCdoB de Santa Cruz de Cabrália, no Sul Baiano, liderança indígena, Samehy Pataxó que abriu a plenária com um canto às ancestralidades indígenas.

Responsável pela apresentação do documento base da Conferência (disponível aqui), Dani Balbi contou das várias contribuições que pavimentaram a construção da tese, destacou ainda a diversidade representativa do povo brasileiro nas fileiras do partido comunista. Comentou que esse documento se articula com o programa de desenvolvimento do Brasil, que, segundo ela, é estratégico, de longo prazo, para uma revolução brasileira.

“Neste cenário de debates da Conferência é preciso salientar que uma luta que deveria ser central para todos nós no Brasil é o combate ao racismo, ou seja, a superação das relações de exploração dos seres humanos por outros seres humanos”, enfatizou Balbi.

Segundo ela, dessa forma, não poderia deixar de tratar do nosso passado colonialista. Da necessidade de conhecer como se deu o racismo no Brasil, suas bases históricas e ideológicas, a relação entre a luta antirracista e a luta de classes para a construção de um projeto de nação que possibilite avanços civilizatórios e de emancipação ao povo brasileiro.

Neste sentido, a deputada explicou como se deu a compreensão do racismo e os desafios pela luta antirracista entrelaçada com a luta de classes. Aprofundou, em sua exposição, sobre o nosso passado, as relações de exploração do homem pelo homem, como funcionava essas relações no sistema escravocrata e como foi a transição histórica para o capitalismo no Brasil.

A parlamentar tratou da formação da classe trabalhadora, que estava muito ligada a diversidade ética que compõe o país. “O Brasil foi formado economicamente pela concentração de renda, essa estrutura que é a relação hiper explorada do trabalho dos negros, das mulheres e dos indígenas que desnuda a relação semiótica da opressão de um ser humano para outro ser humano”, explicou ela.

Neste primeiro momento, o Brasil colonial tinha uma estrutura da “Casa Grande e Senzala” e foi muito cruel e violenta com as mulheres e com os negros. Só privilegiou tanto na prática, como nos desdobramentos culturais, os homens brancos, héteros, de origem ou ascendência europeia.

A população negra tinha uma expectativa de vida em torno de 30 anos e isso ao longo do tempo vai criar uma demanda que vai enriquecer os mercadores de escravos. Mas a partir daí, na virada do século 18 para 19 há um casamento infeliz, de um lado os depositários destes escravos e essa nova camada de mercadores que comercializavam basicamente vidas de seres humanos e outros produtos (que vão também estocar moeda).

“No Brasil isso é trágico e triste, mas é assim que nasce a elite econômica brasileira e se tem início ao nosso sistema bancário, através do mecanismo de empréstimos, cujo são os seres humanos ou a propriedade privada da terra que são garantias.  O sistema financeiro começa por aí”, conta a professora.

Segundo Dani, com isso, era preciso fazer a reposição das forças de trabalho – esticar a força de vida dos escravos, por isso, que defenderam leis como a lei do vento livre, porque começaram a perceber que o custo da reprodução do valor da força de trabalho seria superior ao custo da reprodução.

Assim aconteceu a transição da escravidão para a força de trabalho do proletariado. Dessa forma, acontece um elemento novo no Brasil, são chamados para o Brasil o europeu pobre, barato que aceita ganhar menos e isso, favorece as condições desiguais. Ser negro já era um fator que diminuía o valor do trabalho, daí que se dá origem ao racismo.

A professora também contou sobre o surgimento da consciência de classe e do racismo institucionalizado no Brasil dos anos 1950 e 1960, da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e de ganhos, mas também da hiper exploração da força doméstica.

Resumidamente, as marcações étnicas serviram para justificar as ações escravocratas e que tem impacto significativo até os dias de hoje.  

Protagonismo da classe trabalhadora

Para Dani Balbi, o principal desafio agora para o Brasil é a retomada do desenvolvimento com o protagonismo da classe trabalhadora que é composta por homens e mulheres, principalmente negros. Que tem o salário baixo e é composta por um elemento muito forte que a deprime que é o racismo estrutural.

Para a deputada, o país só vai avançar se realizar uma política voltada para a classe trabalhadora e com ações que fazem uma reparação histórica. “Não há fortalecimento da classe operária sem garantir e valorizar a força de trabalho dos negros e das negras no Brasil”, completou.

Questão indígena

Samehy Pataxó relatou sobre o racismo que sofrem as indígenas, as mulheres. Ela ressaltou que as mulheres indígenas tem ainda pouca visibilidade em relação às lutas das mulheres e das mulheres negras.

Falou também das dificuldades que as indígenas tem em estudar, do isolamento e das dificuldades de elas saírem de sua comunidade. “A gente precisa ocupar esses espaços e falar da vida da mulher indígena e os desafios que as mulheres sofrem”.

Comentou sobre o genocídio que os povos indígenas sofrerem nos últimos tempos com o governo Bolsonaro, mas que agora surge uma esperança com o governo Lula que criou um ministério específico par tratar da questão indígena. “Nós mulheres precisamos resistir a qualquer tipo de retrocesso”, exaltou a dirigente.

Ao final do encontro, a secretária nacional de Combate ao Racismo do PCdoB, deputada estadual da Bahia, Olívia Santana completou que o PCdoB é um instrumento de luta, das mulheres, dos negros e conclamou a todos e todas a ajudarem na mobilização para o debate, escrevendo para a Tribuna e também a participarem das plenárias estaduais da Conferência que já estão ocorrendo.

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