A mais recente Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher revelou que ao menos 30% das brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem. A estimativa aponta que 89% vivenciaram violência psicológica; 77% violência moral e 76%, física. A patrimonial representou 34% e a sexual, 25%.
O levantamento é feito desde 2005 pelo Instituto de Pesquisa DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV). Na edição de 2023, divulgada nesta terça-feira (21), foram entrevistadas mais de 21.700 mulheres.
A partir dessa pergunta que norteia boa parte da pesquisa, foram feitas segmentações levando em consideração a faixa etária, o ensino, a raça e a região, entre outras. No recorte por idade, a maioria que sofreu violência estava na faixa dos 40 aos 49 anos, com 38%, seguida dos 30 aos 39 anos, com 36%, e dos 16 a 29 anos, 29%. Entre os 50 e os 59 anos, o percentual foi de 28% e de 23% com 60 anos ou mais.
A maioria das que responderam positivamente à pergunta sobre ter sido vítima de violência tem até o ensino fundamental completo (34%); mulheres com o ensino médio completo correspondem a 30% e as que têm ensino superior são 24%.
O percentual das que sofreram violência doméstica também é maior entre as que têm rendimento familiar bruto menor. A faixa de até dois salários mínimos responde por 35%; entre dois e seis, 28% e mais de seis, 20%.
Quando feita a segmentação por cor ou raça, o grupo de pretas e pardas e o de amarelas ou indígenas apresentaram o mesmo percentual, 31%, seguido das brancas, com 29%.
Outro dado trazido pela pesquisa é que 35% dessas mulheres estão no Norte; as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste respondem por 31% e o Nordeste, 28%. E nas áreas urbanas, o percentual é maior, 31%, do que no meio rural, 26%.
Considerando a religião, 34% disseram ser evangélicas e 25%, católicas. O grupo das que disseram não ter religião ou pertencer a outras denominações soma 35%.
À Agência Senado, a chefe do Serviço de Pesquisa e Análise do DataSenado, Isabela Lima, destacou que a série histórica do estudo apresenta estabilidade nos números da violência estrutural contra a mulher. “A pesquisa serve justamente para trazer o assunto à tona, motivar a discussão, a análise dos dados porque, quanto mais se discute, mais as mulheres percebem que o que elas estão passando não é normal e é fundamental parar o ciclo da violência”, declarou.
Percepção sobre machismo e violência
A pesquisa também se debruçou sobre aspectos relativos à percepção das mulheres sobre o machismo e a violência doméstica. Questionadas se o Brasil é machista, 62% afirmaram que é muito machista. Para 32%, o país é pouco machista e para 4%, nada machista.
Outro ponto tratado é se elas consideram que as mulheres são tratadas com respeito no país. A maioria, 46%, disse que não, mesmo percentual que respondeu “às vezes”; somente 7% acreditam que sim.
Vale destacar, ainda, que segundo a pesquisa “em 2021, a maioria absoluta das mulheres (75%) acreditava que ter medo do agressor levava uma mulher a não denunciar a agressão. Em 2023, 73% das brasileiras acreditam que esse medo leva a mulher a não denunciar a agressão na maioria das vezes. Logo, permanece a percepção, entre as cidadãs, de que o fator medo é razão mais frequente do que os demais”.
Também foi detectado que mais de seis a cada dez brasileiras (68%) conhecem alguma mulher que sofreu violência familiar e que a maioria, 67%, conhece pouco a Lei Maria da Penha, contra 24% que conhecem muito e 8% que não conhecem nada.
Ainda segundo a pesquisa, “em relação ao grau de conhecimento sobre os serviços que integram a rede de proteção à mulher, nota-se um crescimento relevante no número de mulheres que afirmam conhecer as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs). Essas unidades da Polícia Civil voltadas à assistência a mulheres em situação de violência, de acordo com a edição de 2021, eram conhecidas por 82% das brasileiras. Em 2023, esse índice sobe para 95%”.
Além isso, também cresceu o número de brasileiras que afirmam conhecer a Defensoria Pública (de 56% para 87%); a Casa Abrigo (de 49% para 57%); e a Casa da Mulher Brasileira (de 35% para 38%). Ao serem questionadas sobre o seu grau de conhecimento a respeito das Medidas Protetivas, 68% das cidadãs afirmaram conhecer pouco e 15% nada sobre o instrumento de proteção.
Para acessar a pesquisa completa, clique aqui.
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Por Priscila Lobregatte