No marco da realização da 3ª Conferência Nacional do PCdoB sobre a Emancipação das Mulheres, somos chamados a refletir e debater coletivamente acerca do tema, que ainda exige, mesmo dentro do nosso Partido, dedicação para que assumamos cada vez mais – e profundamente – o compromisso com uma causa que diz respeito a todos, visto que para nós, comunistas, a emancipação da mulher é do interesse de homens e mulheres, pois ela significa a emancipação de toda a sociedade.

Por Maria Beatriz Rocha*

Está na ordem do dia defendermos a aplicação da nossa teoria, de maneira criativa e ampla, sem com isso perdermos nossa identidade como feministas marxistas. Pois é com a solidez teórica e ideológica que encontramos a resposta para a nossa prática.

De encontro com esse espírito de debate e construção coletiva, gostaria de trazer alguns pontos para reflexão e análise, no que se refere ao item 62. Entidades emancipacionistas devem assumir a feição de um feminismo popular.

Primeiro faço uma crítica à forma como tal conceito ou denominação foi publicamente apresentada a partir do lançamento do Manifesto “Todo dia uma luta, todo dia uma esperança! Salve, Salve o Feminismo Popular”. Sem desmerecer a proposta do Manifesto, deu-se a entender que nós, mulheres e homens do PCdoB, já deliberamos a nos apresentar de tal forma. No entanto, entendo que trata-se de tema que está sendo discutido no processo da 3ª conferência, com necessidade de compreensão e coesão de todos.

Sobre o uso da terminologia Feminismo Popular a pergunta que me fiz, quando li o documento base e o manifesto foi: “o que quer dizer feminismo popular?”. Ao pesquisar o tema, representações no movimento de mulheres que reivindicam tal conceito, ligadas principalmente a entidades dos movimentos sociais (Marcha Mundial de Mulheres, Movimento de Mulheres Camponesas, Associação Brasileira de Mulheres, etc.) apontam que se diferenciam das correntes feministas clássicas e que o feminismo popular não é algo que tem uma definição consolidada e você escolhe ser ou não uma “feminista popular”, ele vem sendo forjado pela experiência histórica das mulheres. O leito histórico do feminismo popular foi construído por mulheres que se colocaram em movimento para a transformação social e na luta pelo poder.

Onde nos situamos nós, comunistas, feministas marxistas e defensoras do feminismo emancipacionista?

Como bem apontado em nosso documento base, não negamos a existência de opressões específicas que obstaculizam a emancipação pessoal e coletiva. Pelo contrário: ao revisitar a história da luta das mulheres no Brasil (para não dizer no mundo), não há um só momento em que nós, comunistas, não estivéssemos presentes nas mais decisivas batalhas. A luta pela emancipação do nosso povo e a luta pela emancipação das mulheres são indissociáveis, o que também está presente em nosso documento: “A corrente emancipacionista e popular atua nos movimentos de mulheres, nos movimentos sociais e sindicais, na luta institucional, na luta de ideias, e desenvolve ações de massa, na perspectiva de resistir e lutar com todas as mulheres, com suas diversidades e especificidades. Portanto, defendem as pautas que atingem diretamente as mulheres e seus anseios mais prementes”.

Nesse momento temos que unir forças contra o fascismo que bate à nossa porta, que visa impor trágicas e carcomidas relações de produção e de vida, ou melhor, de morte. É uma luta de toda a sociedade, de classes oprimidas, das mulheres e, em especial, das mulheres negras, que compõe a maioria do nosso povo e que vivem com menos direitos que os homens e menos direitos que as mulheres brancas. Nossa conferência sobre o trabalho feminino e a luta pela emancipação das mulheres se realiza em um momento muito propício para o debate e para a construção de uma plataforma com bandeiras na prioridade ao combate às políticas dos bolsonaristas e das elites de retorno ao regime de opressão barbara fascista.

 Questiono se nesse momento é a mudança da terminologia de como apresentar nossa corrente que nos fará ou estar mais próximas das mulheres em sua luta, ou trazer mais mulheres para a luta em defesa de seus direitos, conquistas, da democracia e da vida. Ou se o que nos cabe é avaliar e aprimorar nossa prática para que ela expresse nas nossas ações, tanto internamente, como a frente do trabalho de massas, a nossa teoria emancipacionista. Não há dúvida de que devemos e podemos nos aproximar mais e melhor das mulheres do povo, para traze-las não só para nossas entidades de massa, mas para as fileiras do Partido como militantes, dirigentes, candidatas. Tarefa que tem nos instigado diariamente, diante de uma conjuntura cada vez mais desafiadora, de perda de referências coletivas e exacerbamento de soluções individualistas.

Penso que a identificação e apropriação desta ou daquela palavra de ordem –  expressão, consigna – não está dada só por ser de mais simples compreensão, mas sim pelo significado que ela enseja, pela justeza de sua proposta e a associação com quem a defende e representa melhor.

Ilustro com uma lembrança de recente tempo histórico: nos anos 90, quando a sociedade se mobilizou em torno do afastamento de então presidente Collor, a palavra de ordem era Impeachment Já! (até hoje soletro mentalmente porque foram muitas pichações com um “h” ou “n” no lugar errado!). Nem por isso o povo, em particular as mulheres, entenderam menos do que se tratava. Pelo contrário; coube a nós, comunistas e democratas, defendermos essa bandeira com firmeza. E o povo se somou a esse processo.

Hoje, somos chamadas a fazer do feminismo emancipacionista um movimento amplo e massivo, democrático, anti-imperialista e verdadeiramente emancipador. Uma poderosa força revolucionária conquistando aliados e rompendo a divisão e o isolamento em pequenos círculos de focos de resistência, da luta específica para a luta política, para alargar os horizontes das mulheres em sua luta.

Popular é o feminismo que consegue dialogar, unir e organizar todas as mulheres em sua diversidade; motivar a participação de todas em seus locais de trabalho, nos bairros e associações, nas escolas e nas universidades. Porque precisamos de todas mulheres: trabalhadoras e desempregadas, cientistas e donas de casa, estudantes e servidoras públicas para verdadeiramente lutarmos pela libertação plena da mulher, marcada pela exploração de classe, raça e gênero, como apontado pelo feminismo emancipacionista.

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*Maria Beatriz Rocha é membra da comissão estadual de Mulheres de São Paulo

(BL)

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