A realidade atual aponta a necessidade de aprofundar o entendimento sobre o impacto da crise do capitalismo estrutural na vida das brasileiras, considerando as mudanças ocorridas, na perspectiva de melhor nos situarmos na luta de ideias.

Por Biloca (Lígia Maria Àvila Chiarelli)*

É de conhecimento geral que a pandemia provoca uma mudança importante nas vidas das mulheres, intensificada pelo aumento da desigualdade para a maioria dos brasileiros. No entanto, o fenômeno novo a ser estudado são os efeitos que o capitalismo, agravado pela pandemia revelou, considerando o aumento da desigualdade entre homens e mulheres.

Fatores que impactam a vida das mulheres

Até o momento, apoiada na própria discussão ocorrida nas plenárias da Conferência do PCdoB sobre a Emancipação das Mulheres, podemos identificar 3 tipos de questões reveladoras dos efeitos da crise sanitária provocada pela pandemia:

Agravamento do desemprego, inclusive entre aqueles trabalhadores em atividade informal. As mulheres foram as mais atingidas ainda mais considerando que 45% das famílias brasileira são chefiadas por mulheres. Ainda que essa realidade atinja mulheres brancas, são as mulheres negras que sofrem mais as consequências.

Acréscimo na sobrecarga de tarefas e responsabilidades. Essa situação é identificada entre mulheres que estão empregadas, subempregadas ou desempregadas e mesmo as que nunca estiveram no mercado de trabalho. Observa-se o quanto a pandemia afeta o cotidiano dessas mulheres, independente dessa mulher dividir as responsabilidades com outras pessoas.

Se está desempregada, cresce a responsabilidade pela comida na mesa e a incerteza, uma vez que vem  aumentando a dificuldade de um novo emprego.

Se está empregada e precisa sair de casa pra trabalhar, o desafio é encontrar alguém que possa cuidar dos filhos ou deixa-los sozinhos o dia inteiro.

Se está trabalhando de forma remota, o encargo é incrementado pela realização do trabalho on-line, ao mesmo tempo em que cuida filhos, pais e parentes próximos, mesmo que alguns deles, antes da pandemia, tivessem autonomia de suas vidas.

Efeitos que a pandemia tem causado na saúde mental das mulheres. Pode-se dizer que não está fácil pra todo mundo, os homens também tem sido afetados pela precarização do trabalho, demissões e perdas familiares. As mulheres sentem mais esses efeitos por estarem muito envolvidas com as tarefas relativas aos cuidados, imposta pela sociedade. Caso trabalhe na área de saúde, esses desgastes são maiores, pela vivência trágica e impossibilidade de conter o vírus, todos os dias, num clima de tristeza e dor.

Além dos fatores já citados, nos casos de trabalho remoto, ocorre uma maior cobrança pela necessidade de apreender novas habilidades técnicas. Além do estresse causado pela perda de contato real com outras pessoas, somam-se os problemas decorrentes dessas inovações (Está me ouvindo? Liga o microfone. Instala de novo esse programa. E se  faltar luz?). Por outro lado, uma parcela importante dessas mulheres não tem qualquer relação com a tecnologia, o que impõe a ocorrência de contatos pessoais aumentando as condições de contágio.

Para agravar esse quadro de estresse, desânimo, frustação ou depressão, a mulher, pelo papel que sempre lhe coube e pelas imposições sociais como responsável pelos cuidados, se sente culpada pela situação em que vivem seus familiares.

Estamos vivendo uma situação de guerra, e estudos psicológicos vem observando que a guerra, além das perdas materiais e pessoais, implica na degradação do ser humano com efeitos pesados em longo prazo. Em todos esses casos, as evidências apontam para uma pergunta: quem vai cuidar da saúde mental das pessoas, e em particular das mulheres, nesse processo e no pós-pandemia?

O que distingue nossa concepção

Para nós comunistas, no entanto, não basta olhar a realidade e interpretá-la. Por mais difícil que se apresente a situação colocada, precisamos atuar na realidade, elevando a consciência e organizando as mulheres. Nosso papel enquanto partido politico, é de atuar politicamente frente a essa realidade. Nesse aspecto, a visão emancipacionista se distingue, entre outras coisas, por ser uma organização que luta por nossos direitos e para transformar a sociedade, apontando o rumo do socialismo. Não somos só feministas anticapitalistas. Apontamos o socialismo como alternativa, entendendo que as diversas discriminações que vivemos não serão resolvidas nesse sistema. 

Também nos distinguimos pela nossa concepção sobre a origem da opressão da mulher, por não limitarmos ao fator biológico. Também entendemos que a origem da descriminação não se encontra na natureza opressora do homem, sendo determinada pelos usos e costumes da sociedade. Para nós, feministas emancipacionistas, a opressão surge em determinado momento histórico, quando aparece a primeira divisão de classes. Temos convicção que desde a pré história, apesar das grandes transformações pela qual a família passou, os traços da sociedade patriarcal e da opressão doméstica sobre a mulher se mantiveram.

Nosso feminismo também se diferencia pela relação que estabelece entre classe, raça e gênero. Como destaca nosso documento, no Brasil, como consequência da desigualdade de gênero, o racismo e a opressão de classe se constituíram em elementos formadores da sociedade e aparecem entrelaçados. A luta emancipacionista contesta o capitalismo e ao mesmo tempo se coloca contra patriarcado e o racismo, combatendo também a homofobia.

O feminismo emancipacionista e popular também apresenta uma visão particular na relação que estabelece com o movimento social.  Essa relação decorre do entendimento sobre a origem da opressão. Se a origem dessa descriminação estivesse identificada com o homem opressor, nossa luta seria contra todos os homens. Ao contrário, entendemos que a palavra emancipação inclui o entendimento de que só é possível a mulher se libertar, com a emancipação de toda a sociedade.

Portanto, lutamos com os demais movimentos pelas transformações necessárias que presentemente se concentram: Pela Vida das Mulheres! Vacina Já! e Auxílio Emergencial!. Em que pese já tenha sido encaminhado uma proposta de valor médio de R$ 250 reais, não consideramos suficiente. Por isso nossa luta se une aos demais setores sociais que lutam pelo fim do Governo Bolsonaro.

(continua)

*Biloca (Lígia Maria Àvila Chiarelli) é dirigente municipal do PCdoB em Pelotas/RS. Membro da coordenação da União Brasileira de Mulheres (UBM) em Pelotas e da direção estadual da UBM.

(BL)

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