Minha intenção aqui é levantar alguns aspectos da nossa trajetória na implementação do feminismo emancipacionista.

Por Liège Rocha*

Quando o nosso querido João Amazonas retornou do exilio, após a conquista da anistia em 1979, realizou algumas reuniões no início dos anos 1980, juntamente com Dinéias Aguiar e outras companheiras, para retomarmos no partido a discussão sobre o feminismo emancipacionista e como impulsioná-lo, transformando essa corrente de opinião mais ativa e ampla.

No informe apresentado por Jô Moraes no 6º Congresso do PCdoB, realizado em 1983 sob o título “Em Defesa dos Direitos e da Emancipação da Mulher”, é sistematizada a nossa opinião onde é expressa a dupla opressão sofrida pelas mulheres de classe e gênero. O informe termina afirmando que “a compreensão do papel que jogam as milhões de mulheres na transformação de nossa sociedade é fator indispensável para que o partido vanguardeie as massas femininas rumo à sua completa emancipação”.

O nosso camarada Renato Rabelo, então presidente do partido, na sua fala de abertura da 1ª conferência do PCdoB sobre a Emancipação da Mulher afirmou: “A luta pela igualdade real entre homens e mulheres tem um sentido estratégico. Não podemos encará-la como uma luta imediata, conjuntural e de curto prazo… A nossa máxima é que o grau de emancipação da mulher é uma medida, um termômetro que mede o nível da emancipação da humanidade”.

A 1ª e a 2ª conferência nacional do PCdoB sobre a emancipação  da Mulher declaram que a luta pela emancipação da mulher é tarefa de todo o partido, e o documento da 2ª conferência afirma que “a luta contra a opressão das mulheres tem sido objeto de elaboração partidária desde o seu 2º congresso, em 1925”. Nestas duas conferências foram mobilizadas 12 mil comunistas na primeira e, 15 mil comunistas na segunda.

 O partido, nesse processo sempre de atualizar a nossa formulação teórica e política, passou a considerar o entrelaçamento da questão de classe, gênero e raça e publicou o livro “Trajetória Teórica e Política do Feminismo Emancipacionista”, uma coletânea de textos de 1954 a 2012, incluindo aí informes de congressos do partido.

Estamos hoje participando de um rico processo de realização da nossa 3ª conferência nacional do PCdoB sobre a emancipação da mulher que, mesmo enfrentando a pandemia, tem conseguido mobilizar amplas lives, propiciando um debate enriquecedor do nosso documento base “Mais Democracia, Mais Mulheres na Política”.

Penso que para a nossa corrente do feminismo emancipacionista ser popular não precisa mudar de nome, mas sim traduzir seu conteúdo numa linguagem para atingir os diversos segmentos da população. 

Sempre fiz palestras em universidades, bairros, sindicatos, eventos e sempre procurei adequar a linguagem de acordo com o público sem abrir mão da nossa concepção.

O documento da 1ª conferência já afirmava “(…) é preciso otimizar a atuação de todo o partido, especialmente das comunistas, onde quer que atuem, levando as ideias emancipacionistas, seja no executivo, nos conselhos de direito da mulher, no parlamento, nos sindicatos, no movimento comunitário, no movimento estudantil e juvenil, nos demais movimentos sociais, na academia, na área artística e cultural, enfim, onde tiver uma comunista ou um comunista ali deve estar uma/um porta voz da corrente emancipacionista”.

O documento base da 3ª conferência trata, no item VI – A Adequação da Ação de Massa na Nova Conjuntura – da “corrente emancipacionista e popular” e em outro item afirma, “entidades emancipacionistas devem assumir a feição de um feminismo popular”.

Penso que na 3ª conferência deveríamos, sim, reafirmar o feminismo emancipacionista e não ficar criando saídas que mais confundem do que ampliam a nossa ação e influência política.

Vivemos um momento de aprofundamento de crises sanitária, econômica, política e social que impactam diretamente na vida das mulheres e, em vez de termos no manifesto aprovado um chamamento em defesa da vida, do auxilio emergencial, Vacina Já! e Fora Bolsonaro…. o chamamento é construir o feminismo popular.

Finalmente queria lembrar que o comitê central, diante das nossas derrotas nas últimas eleições criou um grupo de trabalho (GT) ‘Linha de Massas’ que vem fazendo um trabalho excelente de escuta a vários segmentos do partido e elaboração de texto que será debatido pela Comissão Política Nacional e Comitê Central visando o próximo congresso do partido. Por que não aguardar os acontecimentos?

Viva o Feminismo Emancipacionista!

Viva o Partido Comunista do Brasil!

Viva a 3ª Conferência Nacional do PCdoB sobre a Emancipação da Mulher

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*Liège Rocha é secretária nacional de Movimentos Sociais do PCdoB. Ex-secretária Nacional da Mulher do PCdoB.

(BL)

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